Total 90s - XXXV

Neste mês: a suspeita pergunta sobre quem é Keyzer Söze; uma série de amigos a viverem na cidade que nunca dorme; um festival a duas cores que descambou em violência e um jogo de futebol rápido e furioso.

Filme: ‘Os Suspeitos do Costume’ – The Usual Suspects (1995)

Após uma explosão, a polícia conta 27 corpos e há apenas duas testemunhas: um húngaro em estado crítico e um conhecido ladrão, Roger "Verbal" Kint (Kevin Spacey), portador de um defeito físico, que testemunhou o ocorrido no cais e saiu completamente ileso. Quando os dois dão os seus depoimentos, fica clara a participação de Keyser Söze, um húngaro misterioso e impiedoso, como o homem que foi o mentor intelectual de um golpe contra um grupo de traficantes de drogas da Argentina. O prémio pelos sobreviventes que desapareceram foi estipulado em 91 milhões de dólares e o agente encarregado das investigações acha que falta algo no caso para que seja possível saber quem é Keyser Söze.

O filme foi rodado com um orçamento reduzido de 6 milhões de dólares e começou como um título retirado de um artigo da revista Spy chamada The Usual Suspects, baseada numa das falas mais memoráveis ​​de Claude Rains no clássico filme ‘Casablanca’ (1942). O realizador Bryan Singer e o argumentista Christopher McQuarrie acharam que daria um bom título de um filme. A película foi exibida fora de competição no Festival de Cinema de Cannes de 1995 e inicialmente lançado em apenas alguns cinemas. Recebeu críticas favoráveis ​​e acabou por ter um lançamento mais amplo. Os elogios foram para os elementos de mistério, argumento, reviravolta na história e a actuação de Kevin Spacey. McQuarrie ganhou o Oscar de Melhor Argumento Original e Spacey ganhou o Oscar de Melhor Actor Secundário pela sua actuação.

‘Os suspeitos do Costume’ é um dos thrillers mais bem-sucedidos da década de 90, sobretudo graças a um engenhoso e entrelaçado argumento - que está sempre a querer jogar com as expectativas do espectador para as defraudar - e de um notável elenco. Para além do já referido Spacey, são de elogiar as prestações de Gabriel Byrne, Benicio del Toro, Chazz Palminteri e Kevin Pollack, entre outros. O editor/compositor John Ottman também merece uma palavra de destaque pela sua hábil manipulação de imagem e som.

Quentin Tarantino não foi o “inventor” do uso de flashbacks como recurso narrativo mas certamente popularizou o mesmo nos anos 90 através de filmes como ‘Cães Danados’ (1992) e ‘Pulp Fiction’ (1994). Se Singer e McQuarrie foram inspirados ou influenciados por Tarantino isso nunca foi admitido por ambos mas a verdade é que ‘Os Suspeitos do Costume’ é muito mais do que uma mera tentativa de copiar o trabalho de outro cineasta. Na obra-prima de Singer nada é o que parece, com duplicidades atrás de duplicidades, e a cada visualização do filme parece que ficamos com mais dúvidas sobre quem raios é Keyser Söze.

Série: ‘Friends’ (1994-2004)

‘Friends’ é uma sitcom de televisão norte-americana criada por David Crane e Marta Kauffman, que foi transmitida na NBC de 22 de setembro de 1994 a 6 de maio de 2004, com a duração de dez temporadas e um total de 236 episódios. Com um elenco constituído por Jennifer Aniston, Courteney Cox, Lisa Kudrow, Matt LeBlanc, Matthew Perry e David Schwimmer, a série gira em torno de seis amigos na faixa dos 20 e 30 anos que moram no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, Nova Iorque.

Os seis jovens são unidos por laços familiares, românticos e, principalmente, de amizade, enquanto tentam sobreviver em Manhattan. Rachel Green (Aniston) é a rapariga mimada que deixa o noivo no altar para viver com a amiga dos tempos de escola Monica Geller (Cox), sistemática e apaixonada pela culinária. Monica é irmã de Ross Geller (Schwimmer), um paleontólogo que é abandonado pela esposa. Do outro lado do corredor do apartamento de Monica e Rachel, moram Joey Tribbiani (LeBlanc), um actor frustrado, e Chandler Bing(Perry), de profissão misteriosa. O grupo completa-se com a excêntrica Phoebe Buffay (Kudrow).

Kauffman e Crane começaram a desenvolver ‘Friends’ sob o título de Insomnia Cafe em novembro de 1993, inspirados pelo filme de Cameron Crowe, ‘Singles’ (1992). Os dois amigos revelaram a ideia ao produtor Kevin S. Bright, com quem tinham trabalhado anteriormente, e juntos apresentaram o projecto à NBC. Após várias regravações e alterações, a série foi finalmente nomeada ‘Friends’ e estreou no cobiçado bloco Must See TV do canal norte-americano As filmagens da série ocorreram no estúdio da Warner Bros, em Burbank, na Califórnia, em frente a uma plateia ao vivo. Depois de dez temporadas no ar, a série chegou ao seu término mas ainda gerou o spin-off ‘Joey’ (2004-2006), focado unicamente na personagem de Matt Leblanc, que duraria apenas duas temporadas até ao seu cancelamento.

‘Friends’ continua a ter, nos dias que correm, boas audiências através da sua disponibilização em plataformas de streaming, um pouco à imagem da “rival” contemporânea ‘Seinfeld’. Para além de serem ambas comédias de sucesso dos anos 90, ‘Friends’ e ‘Seinfeld’ seguem igualmente um grupo de amigos que moram em Nova Iorque, detalhando os seus relacionamentos, empregos e vidas em geral, sendo um apartamento (e também um café) o cenário central para ambas. Pessoalmente, sempre preferi largamente ‘Seinfeld’ e a sua visão mais sardónica e divertida do mundo à abordagem mais sentimental de ‘Friends’ mas isso não implica que não me tenha divertido também a ver episódios desta última. A hipotética possibilidade de uma nova temporada, 20 anos após a última, sofreu um duro revés com o recente falecimento de Matthew Perry, o eterno Chandler, aos 54 anos.

Álbum: ‘Woodstock 99’ – Vários (1999)

Woodstock ’99 foi um festival de música realizado de 22 a 25 de julho de 1999 em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Depois de Woodstock '94, foi o segundo festival de música em grande escala que tentou imitar o festival original de Woodstock de 1969. Como os festivais anteriores, foi realizado no norte do estado de Nova Iorque, desta vez na antiga Base Aérea de Griffiss, em Rome, cerca de 160 km a noroeste do local original de Woodstock, em Betel. Aproximadamente 220.000 pessoas compareceram ao evento durante os quatro dias. A MTV cobriu extensivamente o festival e a transmissão ao vivo estava disponível em pay-per-view.

Michael Lang, um dos organizadores do festival original de Woodstock e do Woodstock '94, concordou em fazer parceria com o promotor de espectáculos de Nova Jérsia, John Scher, para um festival de trigésimo aniversário. O evento foi marcado por condições ambientais difíceis, venda de comida e água a preços exorbitantes, saneamento precário, assédio sexual e violações, tumultos, saques, vandalismo, incêndio criminoso, violência e várias mortes, levando à atenção da comunicação social e à controvérsia que ofuscou enormemente a cobertura das apresentações musicais.

Durante os quatro dias de festival, dezenas de bandas e artistas apresentaram-se em um dos três palcos diferentes: West Stage, East Stage e Emerging Artists Stage, com este último dedicado a novas revelações e onde apareceram, por exemplo, Moby e os Muse. Os dois palcos principais estavam reservados para as grandes estrelas do momento, entre vários estilos musicais, onde se destacavam Red Hot Chili Peppers, Metallica, DMX, Limp Bizkit, Korn, Alanis Morissette, Kid Rock e Creed. Entre outros nomes consagrados que pisaram o palco, marcaram também presença Jamiroquai, Live, Sheryl Crow, Offspring, Bush, Dave Matthews Band, Rage Against the Machine, Chemical Brothers, Fatboy Slim, The Roots e Megadeth.

Cerca de três meses após o festival, a Epic Records lançou um CD duplo com actuações de 32 artistas e bandas de entre as largas dezenas que participaram no Woodstock ‘99. A compilação apresenta uma música de cada desses nomes e foi divida em dois CD com cores distintas. O disco vermelho agrupa as bandas mais “pesadas”, com destaque para o hard rock, metal e nu metal, enquanto que o azul agrega mais o pop e a música electrónica. Foi a diversidade de artistas e bandas, juntamente com o facto de já gostar de algumas e ter curiosidade em conhecer outras, que me fez comprar este CD duplo e fiquei satisfeito com a aquisição.

Videojogo: ‘Tengen World Cup Soccer’ (1993)

Vinte e quatro equipas de futebol de todo o mundo competem entre si para alcançar a glória. O jogador tem à sua disposição qualquer uma dessas selecções nacionais para comparar as suas habilidades contra o computador numa partida de exibição, enfrentar um amigo num duelo a dois jogadores (através de um cabo de ligação entre as duas consolas portáteis) ou arriscar tudo no torneio da fase final do Mundial de Futebol.

Desenvolvido pela japonesa SIMS e distribuído pela norte-americana Tengen em 1993 para a Game Gear, o jogo é em tudo idêntico a ‘Tecmo World Cup '93’, lançado no mesmo ano para a Master System. As diferenças entre as duas versões reduzem-se a planos de fundo e separadores de imagem, uma vez que o demais grafismo, jogabilidade e até música e efeitos sonoros são iguais para as duas consolas da Sega.

As opções disponíveis limitam-se à escolha da dificuldade, tipo de som, tempo de cada partida e velocidade de jogo. Após escolher a equipa nacional que quer controlar (de um lote do qual não consta Portugal, na altura uma selecção com raras participações em mundiais de futebol), o jogador pode eleger a cor da camisolas e a táctica e posicionamento dos seus atletas. O modo de Campeonato do Mundo tem um sistema de passwords que permite ao jogador retomar a competição mais tarde se tiver que desligar a consola.

O único cartucho para a Game Gear que tive foi o ‘Sega Game Pack 4 in 1’, uma compilação de quatro jogos que acompanhavam a consola portátil da Sega por altura do lançamento em Portugal, mas pude experimentar outros videojogos emprestados por um amigo. ‘Sonic the Hedgehog 2’ (1992), ‘Sonic Spinball’ (1993) e ‘Mortal Kombat II’ (1993) eram interessantes de jogar na Game Gear mas o jogo que mais me entusiasmou foi este ‘Tengen World Cup Soccer’. Simples mas extremamente “viciante”, com uma jogabilidade fluída e música empolgante, este foi o melhor jogo de futebol que joguei para a portátil de 8 bits.